O nosso entrevistado da vez é o Dr. Rodrigo Aguiar, colega radiologista de Curitiba cuja especialidade é radiologia musculoesquelética.
Rodrigo é um dos principais nomes da especialidade no país e participou de várias aulas no último Congresso Brasileiro de Radiologia que aconteceu no Rio de Janeiro.
O que me impressiona no Rodrigo é a grande capacidade de trabalho e o alto grau de planejamento e execução das coisas que faz. Impressionante, não é para qualquer um.
Quem quiser ter acesso às aulas que estão no YouTube, o link é https://www.youtube.com/channel/UChnoNATpdAlZdqY0QQEz3xw.
No momento ele coordena um curso à distância de RM do ombro, pioneiro na maneira como é administrado e como interage com os alunos.
Q1- Rodrigo, conte-nos um pouco da sua trajetória dentro da radiologia e como surgiu esse interesse especificamente por musculoesquelético.
Durante a Faculdade de Medicina, eu me interessava por todas as áreas. Comecei querendo fazer clínica médica, depois cirurgia geral e por último, ortopedia. No último ano, passei no estágio de radiologia, e percebi que era o que eu queria, pois ficava exposto a diversos tipos de doenças e especialidades médicas. Além disso, sempre gostei muito da parte diagnóstica da medicina, e a radiologia veio de encontro a isso.
Fiz meu primeiro ano de radiologia na Unicamp, mas voltei para Curitiba e recomecei o programa, no HC da UFPR, de 2001 a 2003. Durante a residência eu já tinha uma preferência pela radiologia musculoesquelética, visto que a última especialidade que eu havia me interessado era a ortopedia e também pelo meu gosto pelos esportes. Além disso, quando eu fiz o R1 de radiologia na Unicamp, o Dr. Martin Torriani, que hoje está em Boston, era um dos médicos do serviço, e já naquela época ele se destacava nesta área e eu acabei me interessando também.
Q2- Parte da sua formação como radiologista aconteceu no Research Fellowship da Universidade da California San Diego, onde você esteve sob a supervisão do Prof. Resnick. Como foi esse período de treinamento nos EUA? E qual a importância que ele teve na sua carreira?
O período de treinamento com o Prof. Resnick foi sensacional. Um divisor de águas. Ele me mostrou que por trás de um profissional bem-sucedido tem muito trabalho duro nos bastidores. Ele sempre foi muito disciplinado e metódico no seu modo de trabalhar e pude perceber como isso é importante para a vida profissional. Sou muito grato a vários professores e colegas médicos que me ajudaram a ser um profissional e uma pessoa melhor e, sem dúvida, o Prof. Resnick está no topo desta lista.
Q3- Como surgiu o interesse em divulgar conhecimento por meio de aulas virtuais? Por que a escolha do YouTube?
Eu sempre gostei de produzir e dar aulas, mas ficava frustrado de ver o tempo que eu investia preparando o material e quantas pessoas realmente assistiam a aula, tanto na residência médica quanto nos congressos que eu participava. Depois, eu via aquela aula perdida, caída no esquecimento, esperando por um próximo congresso ou reunião da residência para poder falar novamente sobre o assunto e, novamente, para um número limitado de pessoas. Com esse sentimento, eu sabia que uma hora ou outra eu iria começar a disponibilizar o meu conteúdo on-line. Quando eu percebi que a tecnologia já estava permitindo o acesso a esse material de forma adequada, resolvi cair de cabeça neste projeto.
Com relação ao meio de compartilhar o conteúdo, o YouTube se mostrou a melhor opção pela popularidade e pela facilidade das pessoas poderem acessar o material.
Q4- Você agora ministra aulas num curso à distância sobre ombro. Que escolhas você teve que fazer na sua vida profissional e pessoal para viabilizar esse projeto? Como ocorre o processo de elaboração das aulas e do material didático?
Para colocar para rodar o projeto do curso do ombro, eu tive que sair alguns períodos da clínica onde eu trabalho, o DAPI, aqui em Curitiba, caso contrário, não teria como absorver a imensa carga de trabalho que é produzir um curso desse porte. Na vida pessoal, a minha esposa entendeu o meu momento profissional e me deixou bem à vontade para me dedicar ao projeto, mas tento sempre parar o trabalho no começo da noite, para dar atenção para a família.
O processo de elaboração das aulas é uma aventura! Eu separo toda a literatura referente ao assunto da aula e começo a revisar tudo, separando os principais artigos que vão compor o esqueleto da aula. Em cima disso, eu vou acrescentando camadas de informação para deixar a aula interessante tanto para colegas novatos quanto para os mais experientes. Depois de produzir os slides da aula, eu paro e gravo, sem perder tempo, pois as informações estão recentes na minha cabeça. Depois disso, faço uma rápida edição e coloco no ar.
O grande desafio de um curso on-line é que você não tem limitação de tempo, só de conteúdo! Então, eu só termino a aula quando eu estou satisfeito com o conhecimento que procurei passar para os participantes. Dito isso, algumas aulas que produzi me surpreenderam pelo resultado final. Por exemplo, uma aula de articulação acromioclavicular do curso durou quase 1 hora e meia, tinha muita coisa boa para falar e ninguém reclamou!
5- Quais são seus projetos para o futuro? Consegue vislumbrar como estará a radiologia e a educação à distância daqui a 10 anos, por exemplo?
Para o futuro, espero continuar produzindo cursos para as demais articulações, como joelho, pé e tornozelo, mão/punho e cotovelo e quadril/bacia. Além disso também quero fazer um upgrade no site da radiologia ortopédica e no canal do YouTube.
Em relação ao futuro da radiologia, acho que haverá um grande salto de produtividade nos próximos anos, por causa da ajuda da inteligência artificial. Também acho que o radiologista deverá ficar cada vez mais especializado (pois as tarefas simples serão feitas pela IA) e ao mesmo tempo, mais humanizado, para trabalhar multidisciplinarmente com colegas de outras áreas.
Creio que a educação à distância veio para ficar. Ela está democratizando o conhecimento e reduzindo os custos dos alunos, que podem economizar com locomoção, hospedagem e alimentação, além de não precisar se ausentar de casa (e do trabalho) para um curso presencial, sempre lembrando que o aluno precisa ter disciplina, para sistematicamente ver e rever as aulas. Além disso, em qualquer parte do país ou do mundo, desde que o aluno tenha acesso a internet, ele poderá ver e rever o conteúdo, ajudando no seu aprimoramento profissional.