quarta-feira, 24 de outubro de 2018

ENTREVISTA COM O DR. RODRIGO AGUIAR: RADIOLOGIA MUSCULOESQUELETICA E EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA


O nosso entrevistado da vez é o Dr. Rodrigo Aguiar, colega radiologista de Curitiba cuja especialidade é radiologia musculoesquelética.
Rodrigo é um dos principais nomes da especialidade no país e participou de várias aulas no último Congresso Brasileiro de Radiologia que aconteceu no Rio de Janeiro.
O que me impressiona no Rodrigo é a grande capacidade de trabalho e o alto grau de planejamento e execução das coisas que faz. Impressionante, não é para qualquer um.
Quem quiser ter acesso às aulas que estão no YouTube, o link é https://www.youtube.com/channel/UChnoNATpdAlZdqY0QQEz3xw.
No momento ele coordena um curso à distância de RM do ombro, pioneiro na maneira como é administrado e como interage com os alunos.


Q1- Rodrigo, conte-nos um pouco da sua trajetória dentro da radiologia e como surgiu esse interesse especificamente por musculoesquelético.

Durante a Faculdade de Medicina, eu me interessava por todas as áreas. Comecei querendo fazer clínica médica, depois cirurgia geral e por último, ortopedia. No último ano, passei no estágio de radiologia, e percebi que era o que eu queria, pois ficava exposto a diversos tipos de doenças e especialidades médicas. Além disso, sempre gostei muito da parte diagnóstica da medicina, e a radiologia veio de encontro a isso. 
Fiz meu primeiro ano de radiologia na Unicamp, mas voltei para Curitiba e recomecei o programa, no HC da UFPR, de 2001 a 2003. Durante a residência eu já tinha uma preferência pela radiologia musculoesquelética, visto que a última especialidade que eu havia me interessado era a ortopedia e também pelo meu gosto pelos esportes. Além disso, quando eu fiz o R1 de radiologia na Unicamp, o Dr. Martin Torriani, que hoje está em Boston, era um dos médicos do serviço, e já naquela época ele se destacava nesta área e eu acabei me interessando também.
Q2- Parte da sua formação como radiologista aconteceu no Research Fellowship da Universidade da California San Diego, onde você esteve sob a supervisão do Prof. Resnick. Como foi esse período de treinamento nos EUA? E qual a importância que ele teve na sua carreira?
O período de treinamento com o Prof. Resnick foi sensacional. Um divisor de águas. Ele me mostrou que por trás de um profissional bem-sucedido tem muito trabalho duro nos bastidores. Ele sempre foi muito disciplinado e metódico no seu modo de trabalhar e pude perceber como isso é importante para a vida profissional. Sou muito grato a vários professores e colegas médicos que me ajudaram a ser um profissional e uma pessoa melhor e, sem dúvida, o Prof. Resnick está no topo desta lista.
Q3- Como surgiu o interesse em divulgar conhecimento por meio de aulas virtuais? Por que a escolha do YouTube?
Eu sempre gostei de produzir e dar aulas, mas ficava frustrado de ver o tempo que eu investia preparando o material e quantas pessoas realmente assistiam a aula, tanto na residência médica quanto nos congressos que eu participava. Depois, eu via aquela aula perdida, caída no esquecimento, esperando por um próximo congresso ou reunião da residência para poder falar novamente sobre o assunto e, novamente, para um número limitado de pessoas. Com esse sentimento, eu sabia que uma hora ou outra eu iria começar a disponibilizar o meu conteúdo on-line. Quando eu percebi que a tecnologia já estava permitindo o acesso a esse material de forma adequada, resolvi cair de cabeça neste projeto.
Com relação ao meio de compartilhar o conteúdo, o YouTube se mostrou a melhor opção pela popularidade e pela facilidade das pessoas poderem acessar o material.
Q4- Você agora ministra aulas num curso à distância sobre ombro. Que escolhas você teve que fazer na sua vida profissional e pessoal para viabilizar esse projeto? Como ocorre o processo de elaboração das aulas e do material didático?
Para colocar para rodar o projeto do curso do ombro, eu tive que sair alguns períodos da clínica onde eu trabalho, o DAPI, aqui em Curitiba, caso contrário, não teria como absorver a imensa carga de trabalho que é produzir um curso desse porte. Na vida pessoal, a minha esposa entendeu o meu momento profissional e me deixou bem à vontade para me dedicar ao projeto, mas tento sempre parar o trabalho no começo da noite, para dar atenção para a família.
O processo de elaboração das aulas é uma aventura! Eu separo toda a literatura referente ao assunto da aula e começo a revisar tudo, separando os principais artigos que vão compor o esqueleto da aula. Em cima disso, eu vou acrescentando camadas de informação para deixar a aula interessante tanto para colegas novatos quanto para os mais experientes. Depois de produzir os slides da aula, eu paro e gravo, sem perder tempo, pois as informações estão recentes na minha cabeça. Depois disso, faço uma rápida edição e coloco no ar. 

O grande desafio de um curso on-line é que você não tem limitação de tempo, só de conteúdo! Então, eu só termino a aula quando eu estou satisfeito com o conhecimento que procurei passar para os participantes. Dito isso, algumas aulas que produzi me surpreenderam pelo resultado final. Por exemplo, uma aula de articulação acromioclavicular do curso durou quase 1 hora e meia, tinha muita coisa boa para falar e ninguém reclamou!
5- Quais são seus projetos para o futuro? Consegue vislumbrar como estará a radiologia e a educação à distância daqui a 10 anos, por exemplo?
Para o futuro, espero continuar produzindo cursos para as demais articulações, como joelho, pé e tornozelo, mão/punho e cotovelo e quadril/bacia. Além disso também quero fazer um upgrade no site da radiologia ortopédica e no canal do YouTube.
Em relação ao futuro da radiologia, acho que haverá um grande salto de produtividade nos próximos anos, por causa da ajuda da inteligência artificial. Também acho que o radiologista deverá ficar cada vez mais especializado (pois as tarefas simples serão feitas pela IA) e ao mesmo tempo, mais humanizado, para trabalhar multidisciplinarmente com colegas de outras áreas. 
Creio que a educação à distância veio para ficar. Ela está democratizando o conhecimento e reduzindo os custos dos alunos, que podem economizar com locomoção, hospedagem e alimentação, além de não precisar se ausentar de casa (e do trabalho) para um curso presencial, sempre lembrando que o aluno precisa ter disciplina, para sistematicamente ver e rever as aulas. Além disso, em qualquer parte do país ou do mundo, desde que o aluno tenha acesso a internet, ele poderá ver e rever o conteúdo, ajudando no seu aprimoramento profissional.





sábado, 5 de maio de 2018

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Excelentes as duas palestras sobre Inteligência Artificial (IA) que encerraram o dia na JPR. Os radiologistas assistiram com muita atenção e as opiniões da plateia se dividiram sobre o papel que o médico exercerá no futuro. Uns preocupados com demissões e aspectos legais e outros com a expectativa que a IA ajudará o profissional. Eu não tenho opinião formada sobre o tema, mas acho que o fluxo de trabalho vai mudar com certeza. Aliás, isso não acontecerá somente na medicina, mas em todas as profissões. Acabei de chegar ao hotel e a reportagem na Globonews era sobre as mudanças que as startups de seguros estão promovendo no mercado. O mesmo questionamento é feito sobre os empregos dos corretores de seguros e os posicionamentos, imagino eu, também devem ser divididos.
De tudo que ouvi, destaco:
1- as máquinas criam processos tão sofisticados de solução dos problemas que além de serem mais eficientes que o homem, nos são incompreensíveis como chegaram aos resultados obtidos. Não é simplesmente consultar um banco de dados com milhares de imagens e concluir através de padrões. Há fatores que a máquina utiliza para se chegar a um diagnóstico que não se tem a mínima ideia de como aconteceu;
2- alimentar a base de dados do sistema é muito complexo também. Existem questões legais e uma heterogeneidade dos dados ou formatos em que os dados estão. O posicionamento inclinado de uma imagem de mão já foi suficiente para que o sistema errasse a idade óssea de um paciente. Imagens em formato DICOM têm uma série de informações que podem violar a privacidade de um paciente, imagens obtidas em máquinas de diferentes fabricantes podem não ser úteis em conjunto para se definir um padrão;
3- os palestrantes foram céticos na rapidez com que as mudanças vão ser implementadas. Foram citadas várias previsões feitas por cientistas que estavam na vanguarda da ciência décadas atrás e que, simplesmente, não ocorreram;
4- quando digo que o fluxo de trabalho vai mudar, afirmo baseado nos exemplos que foram passados: numa worklist imensa, cheia de cadastros de pacientes, o sistema poderá selecionar, baseado em informações de pedidos médicos ou mesmo pela leitura prévia das imagens dos exames, quais exames devem ser laudados primeiro. O critério que existe hoje em dia é baseado na data do exame ou na menina que entrega os resultados quando pede "Dr. Mogami, o senhor pode liberar esta tomografia porque o paciente está aguardando...";
5- o uso de vetores para conjugar palavras é impressionante porque por meio de um casamento de palavras que tenham uma relação de proximidade, o sistema consegue priorizar exames ou resumir um prontuário médico de forma que o radiologista tenha acesso às informações que realmente interessam;
6- o volume de informações à disposição do radiologista vai aumentar e muitas vezes haverá informações que o médico não saberá dizer se é importante ou não. Na verdade, o google já faz isso ao apresentar dezenas de respostas a uma consulta;
Não sei se vamos ser em menor número nas clínicas. Mas, sei que precisaremos mudar a maneira de fazer radiologia. Acho que ser um gerenciador de uma quantidade enorme de informações e definir o que importa vai fazer parte disso. Ser mais médico, no sentido de dominar conhecimentos em outras áreas fora da radiologia também será importante. Acho também que dominar várias modalidades, pelo menos dentro de uma subespecialidade, permitirá que o radiologista seja mais versátil e não apenas um entendedor de um assunto de pé de página.

sábado, 28 de abril de 2018

ENTREVISTA COM O PROF. LEONARDO KAYAT BITTENCOURT: CÂNCER DE PRÓSTATA



A sétima entrevista do projeto é com o Leonardo Kayat, professor adjunto de radiologia da UFF e atual presidente da Sociedade de Radiologia do Rio de Janeiro. 
Leonardo é um dos maiores especialistas do país em imagem da próstata, particularmente na abordagem do câncer de próstata por meio de ressonância magnética (RM).
De forma bastante didática, ele nos atualiza em relação ao tema e discute o papel da RM no diagnóstico de uma neoplasia maligna que é a segunda maior causa de óbito no sexo masculino.

Q1- Leonardo, você poderia fazer um breve relato da sua trajetória acadêmica dentro da radiologia?

Sou formado em Medicina pela nossa UERJ, na turma graduada em 2004. Fiz residência em Radiologia na Med-Imagem / Hosp. Beneficência Portuguesa de São Paulo, através do concurso do SUS-SP. Prossegui no quarto ano na mesma instituição, como Fellow em Medicina Interna, finalizando em janeiro de 2009.
Retornei então ao RJ, onde passei a trabalhar na clínica CDPI/DASA desde 2009 até o presente, no setor de RM em medicina interna.
Iniciei o Mestrado em Radiologia na UFRJ em 2009, sob orientação do Prof. Emerson Gasparetto, defendendo a dissertação em 2011, intitulada: “A IMPORTÂNCIA DAS IMAGENS DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA PESADAS EM DIFUSÃO NA CARACTERIZAÇÃO DO GRAU DE AGRESSIVIDADE DO ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA NA ZONA PERIFÉRICA”. Segui então para o Doutorado na mesma instituição e com o mesmo orientador, matriculando em 2011 e defendendo a tese em fevereiro de 2014, sob o título: “AVALIAÇÃO DA PERFORMANCE DOS CRITÉRIOS DE PI-RADS PARA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA MULTIPARAMÉTRICA DA PRÓSTATA NA DETECÇÃO DE EXTENSÃO EXTRACAPSULAR DO CÂNCER DE PRÓSTATA”.
Em seguida, fui aprovado em março de 2014 para concurso para professor adjunto do Departamento de Radiologia da Faculdade de Medicina da UFF, onde atuo em carreira docente até o presente, e atualmente também exerço a vice-chefia do departamento.
Durante este período de desenvolvimento acadêmico, tive o privilégio de colaborar com grupos e colegas de excelente qualidade no Brasil e no mundo, possibilitando a apresentação de mais de 60 trabalhos na RSNA, além da publicação de 24 artigos em revistas médicas indexadas no Pubmed.

Q2- O que o levou a aceitar presidir a Sociedade de Radiologia do Rio de Janeiro? Quais as metas da sua gestão?

Meu primeiro contato com a estrutura de gestão da SRad-RJ foi durante o mandato anterior (2015-2016), quando exercia o cargo de diretor científico. Foi um período muito duro e de difíceis decisões para a Sociedade, em que a combinação de estrutura de custos pesada ao quadro econômico desfavorável tornavam a sustentabilidade um grande desafio. A gestão anterior, personificada no Presidente, Dr. Hilton Koch, teve enorme êxito em buscar apoio junto ao CBR para sanear a situação econômica da Sociedade, de modo que encerramos 2016 sem dívidas, com estrutura de custos muito mais enxuta, e sobretudo com uma grade científica em funcionamento.
Foi-me então ofertada a Presidência da Sociedade pelo Conselho consultivo, e meu aceite foi fruto de senso de dever e otimismo em relação ao projeto em andamento.
Desde então, com o apoio e inestimável ajuda dos demais integrantes desta gestão, temos trabalhado alguns objetivos para este biênio:
       Sistema de gestão de associados (entregue)
       Digitalização dos processos de associação, pagamento de anuidades e inscrição em eventos (entregue)
       Investir na percepção de valor por parte do associado. (entregue)
       Comunicação em mídias sociais e newsletter (entregue)
       Estreitar relacionamento com parceiros comerciais (entregue)
       Viabilizar patrocínio por empresas de outros ramos (entregue)
       Apoiar o CBR2018 no Rio de Janeiro (em outubro)

Alguns resultados já são amplamente visíveis, como o aumento no quadro de associados adimplentes (em torno de 300 este ano), o retorno das empresas parceiras ao patrocínio das atividades da sociedade (sete empresas até o momento), e sobretudo o resultado financeiro fortemente positivo no ano passado, revertendo o ciclo de prejuízo financeiro que se estendia por mais de uma década.

Ainda temos diversos desafios pela frente na SRad-RJ, mas seguramente a próxima gestão encontrará bases sólidas e ampla sustentabilidade na Sociedade para executar seus objetivos.

Q3- Em termos de rastreamento e diagnóstico do câncer de próstata, qual o papel do toque retal, dosagem de PSA e biópsia transretal da próstata?

Estes métodos ainda constituem a rotina e a principal rota diagnóstica no rastreio do câncer de próstata (CaP), segundo a maioria das diretrizes de especialidades urológicas ou oncológicas.
No entanto, tem-se acumulado extensa evidência que demonstra desvantagem destes métodos de rastreio quando não apoiados por métodos de imagem mais avançados, uma vez que aumenta a incidência de superdiagnóstico (diagnóstico de lesões insignificantes, que leva a tratamentos desnecessários e potencialmente danosos) e de falsos negativos (deixar de identificar tumores que merecem tratamento).
Trabalhos recentes de alta qualidade têm demonstrado que a associação da ressonância magnética multiparamétrica da próstata agrega valor significativo a estes demais métodos.

Q4- O que é ressonância magnética multiparamétrica de próstata e, nos dias atuais, qual o papel do método?

Trata-se de um exame que alia informações morfológicas (imagens pesadas em T2) a informações funcionais (difusão, realce dinâmico pelo contraste), para a detecção de CaP clinicamente significativo.
O método tem ganhado ampla aceitação frente a comunidade urológica e oncológica, e a maioria dos serviços radiológicos já tem percebido importante aumento da demanda deste exame ao longo dos últimos anos.
Hoje já sabemos que a RM multiparamétrica é o método diagnóstico não invasivo de maior acurácia para a detecção de CaP significativo, superando até mesmo PSA, toque retal e biópsia sistemática de próstata.
Além disso, o método permite a fusão das imagens de RM com as imagens de ultrassonografia transretal em tempo real, possibilitando a coleta de fragmentos de biópsia direcionados às alterações apontadas na RM, com elevada acurácia e resultados muito superiores às técnicas de biópsia sistemática por sextantes.
Pessoalmente, acreditamos que no futuro próximo, a grande maioria dos pacientes com indicação de biópsia de próstata serão primeiro submetidos a um exame de RM multiparamétrica, e caso haja alteração, serão encaminhados para biópsia por fusão de imagens.

Q5- O que é a classificação PIRADS?

É uma classificação baseada em RM multiparamétrica da próstata que consiste na atribuição de um escore de 1 a 5 às lesões identificadas, de acordo com descritores específicos, validados pela literatura. Quanto maior o escore, maior o risco de a lesão representar CaP significativo. Esta classificação tem auxiliado muito na comunicação e padronização dos resultados dos exames entre diferentes instituições e entre radiologista e médico assistente.

Q6- O que esperar para o futuro? Existem novas tecnologias, protocolos, softwares em testes, com potencial para tornar mais eficiente o diagnóstico do câncer de próstata?

O futuro em qualquer área da radiologia converge para iniciativas baseadas em inteligência artificial, e no contexto da próstata não é diferente. Já existem diversos grupos no mundo trabalhando em algoritmos que possam auxiliar o radiologista na detecção e caracterização de lesões suspeitas, porém ainda em fase rudimentar.

Nosso grupo está envolvido em algumas destas iniciativas, e esperamos poder compartilhar nossos resultados com a comunidade dentro dos próximos anos.

sábado, 14 de abril de 2018

ENTREVISTA SOBRE TRAUMA PENETRANTE COM O PROFESSOR ALESSANDRO SEVERO



A sexta entrevista do projeto é com um amigo, docente de radiologia da UFF e um dos principais radiologistas de tórax do país. Ele nos conta um pouco sobre sua vida e o trabalho sobre traumas penetrantes que foi publicado recentemente na revista Radiologia Brasileira http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-39842017000600372&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

Q1- Alessandro, conte-nos sobre a sua trajetória dentro da radiologia, as pessoas que o influenciaram e o que mudou na especialidade da sua época de residente para os dias de hoje?

Minha trajetória na Radiologia se iniciou  no 5º período da Faculdade quando ingressei no Hospital Universitário Antônio Pedro, onde iniciei meu contato com as disciplinas clínicas e com a  Radiologia, cuja sessão de tórax, ministrada pelo Professor Edson Marchiori, passei a acompanhar, daí nasceu o interesse, que durante o período de graduação foi compartilhado com a Cardiologia, a Pneumologia, a Neurologia e a Anatomia Patológica. 
No período que antecedeu o internato passei a acompanhar as atividades práticas do Professor José Ricardo Duarte Alves e a frequentar as sessões de Osso do Professor Alberto Vianna e de Aparelho Digestivo, coordenada pelo Professor Walter Melo, aumentando o interesse pela especialidade. Pensando assim, fiz o concurso de monitoria em Radiologia. Na monitoria, era estimulado a fazer trabalhos científicos com o incentivo dos Professores Edson Marchiori e Maria Lucia Santos.
No 3º ano da Residência em 1999 recebi o convite do Dr Ricardo Pinheiro para estágio em tomografia computadorizada helicoidal e ressonância magnética. Ao final deste ano iniciei a elaboração da minha dissertação de Mestrado em estudo conjunto com a Patologia, com o tema “Correlação entre a tomografia computadorizada de alta resolução e a histopatologia na Sarcoidose”, sob orientação do Professor Edson Marchiori. Tive ainda a oportunidade quase no final do 3º ano,  de realizar a prova de especialista do Colégio Brasileiro de Radiologia, tendo sido aprovado.      
Por concurso público trabalhei no Hospital Souza Aguiar, onde cumpri minha meta de fazer uma espécie de pós-residência em Emergência, notadamente em tomografia computadorizada helicoidal. 
 A carreira acadêmica se tornou um objetivo no início da Faculdade de Medicina, já nos tempos das monitorias de Fisiologia, Patologia e Radiologia e em 2001 comecei a minha tese de doutorado, com busca prospectiva de casos do tema “Aspectos tomográficos do trauma de tórax”, sob a orientação dos Professores Edson Marchiori e Arthur Soares de Souza.
 Após a defesa de minha tese de doutorado, em 2003, recebi o convite do Professor Alair Sarmet para escrever o capítulo de trauma de tórax, do livro de Aparelho Respiratório da Sociedade Brasileira de Radiologia e dar aula sobre o tema no curso Abércio Arantes.

Em 2006 ingressei por concurso no Hospital Federal dos Servidores do Estado onde trabalhei até o início de 2009, quando fiz concurso para Professor do Departamento de Radiologia da UFF,  onde atuo como docente na graduação e pós-graduação. 
 A grande modificação da Radiologia do meu tempo de graduação para os dias de hoje é basicamente tecnológica. A Radiologia dispõe atualmente de maquinário bem mais moderno que no meu período de formação. Na minha época de Residência havia grande foco na formação em Radiologia Convencional e na Ultrassonografia. Obviamente esses métodos são fundamentais na prática médica, mas houve necessidade crescente de maior conhecimento nos campos da Tomografia Computadorizada e na Ressonância Magnética, conteúdos estes que devem ser passados para as novas gerações de profissionais. Hoje com a digitalização dos métodos até tirar dúvidas de casos se tornou bem mais simples: na minha época de formação se fazia necessário fazer filmes extras dos casos e levar até os colegas. Atualmente a gama de possibilidades é enorme para esse fim, sendo possível enviar fotos e vídeos até pelo celular e discutir os casos em tempo real.    
             

Q2- Como surgiu a ideia de fazer um trabalho sobre trauma penetrante de tórax e de onde se originaram os pacientes da casuística?

O trabalho sobre trauma penetrante teve origem na casuística da minha tese de doutorado que versou sobre Aspectos de Imagem do Trauma Torácico. Fui acrescentando novos casos ao longo dos anos. A motivação para a publicação foi a inexistência de artigos nacionais sobre aspectos de imagem do trauma penetrante. Os casos eram oriundos prioritariamente de grandes emergências públicas do Rio de Janeiro como os Hospitais Souza Aguiar, Alberto Torres e Pedro II,  por exemplo.

Q3- Os tipos ou intensidades de lesões torácicas mudaram ao longo do tempo em consequência da sofisticação dos armamentos que foram surgindo?

Sim, sem dúvida. As lesões traumáticas penetrantes decorrem na atualidade em especial de armas capazes de determinar maior transmissão, gerando afecções mais graves e extensas. Claro que nas situações críticas, se as vítimas conseguem chegar aos hospitais, o tratamento cirúrgico é realizado sem investigação diagnóstica pormenorizada prévia.


Q4- Qual o perfil epidemiológico do paciente atendido na emergência com lesão por arma de fogo ou arma branca?

São vítimas da violência urbana. Indivíduos do sexo masculino, 82% dos casos, na faixa etária predominante da 3ª a 5ª décadas.


Q5- Quais as lesões torácicas mais comuns e que diferenças existem para um paciente que sofre trauma fechado? Exemplo: acidentes como motos, cada vez mais frequentes.

As lesões mais comuns são as contusões pulmonares, o hemotórax, o pneumotórax e as lesões mediastinais. O padrão tomográfico das lesões traumáticas do tórax não difere tanto entre aquelas decorrentes de lesões fechadas ou abertas. Claro que há alguns pontos peculiares a cada uma: destaco em especial no trauma penetrante a perspectiva da análise de trajeto dos projéteis e armas brancas, permitindo delinear lesões de órgãos mediastinais, notadamente vasculares. Ressalto a necessidade na TC de tórax por trauma torácico, seja penetrante ou fechado, do uso do meio de contraste venoso, se possível em fase arterial e venosa, visando diagnóstico mais preciso das lesões cardiovasculares, o que tem particular importância em face de sua grande mortalidade. Outro ponto importante a se considerar é que a prevalência de trauma fechado em unidades hospitalares é superior à do trauma penetrante, muito em função da grande mortalidade em loco do trauma por projéteis de armas de fogo de grande energia, situação bastante frequente no nosso meio.


Q6- Fora do Brasil, de acordo com os trabalhos que você consultou, o perfil epidemiológico dos pacientes e as lesões encontradas são semelhantes?

As lesões descritas na literatura internacional no trauma penetrante são semelhantes às do nosso estudo e com perfil epidemiológico parecido.