sábado, 28 de abril de 2018

ENTREVISTA COM O PROF. LEONARDO KAYAT BITTENCOURT: CÂNCER DE PRÓSTATA



A sétima entrevista do projeto é com o Leonardo Kayat, professor adjunto de radiologia da UFF e atual presidente da Sociedade de Radiologia do Rio de Janeiro. 
Leonardo é um dos maiores especialistas do país em imagem da próstata, particularmente na abordagem do câncer de próstata por meio de ressonância magnética (RM).
De forma bastante didática, ele nos atualiza em relação ao tema e discute o papel da RM no diagnóstico de uma neoplasia maligna que é a segunda maior causa de óbito no sexo masculino.

Q1- Leonardo, você poderia fazer um breve relato da sua trajetória acadêmica dentro da radiologia?

Sou formado em Medicina pela nossa UERJ, na turma graduada em 2004. Fiz residência em Radiologia na Med-Imagem / Hosp. Beneficência Portuguesa de São Paulo, através do concurso do SUS-SP. Prossegui no quarto ano na mesma instituição, como Fellow em Medicina Interna, finalizando em janeiro de 2009.
Retornei então ao RJ, onde passei a trabalhar na clínica CDPI/DASA desde 2009 até o presente, no setor de RM em medicina interna.
Iniciei o Mestrado em Radiologia na UFRJ em 2009, sob orientação do Prof. Emerson Gasparetto, defendendo a dissertação em 2011, intitulada: “A IMPORTÂNCIA DAS IMAGENS DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA PESADAS EM DIFUSÃO NA CARACTERIZAÇÃO DO GRAU DE AGRESSIVIDADE DO ADENOCARCINOMA DE PRÓSTATA NA ZONA PERIFÉRICA”. Segui então para o Doutorado na mesma instituição e com o mesmo orientador, matriculando em 2011 e defendendo a tese em fevereiro de 2014, sob o título: “AVALIAÇÃO DA PERFORMANCE DOS CRITÉRIOS DE PI-RADS PARA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA MULTIPARAMÉTRICA DA PRÓSTATA NA DETECÇÃO DE EXTENSÃO EXTRACAPSULAR DO CÂNCER DE PRÓSTATA”.
Em seguida, fui aprovado em março de 2014 para concurso para professor adjunto do Departamento de Radiologia da Faculdade de Medicina da UFF, onde atuo em carreira docente até o presente, e atualmente também exerço a vice-chefia do departamento.
Durante este período de desenvolvimento acadêmico, tive o privilégio de colaborar com grupos e colegas de excelente qualidade no Brasil e no mundo, possibilitando a apresentação de mais de 60 trabalhos na RSNA, além da publicação de 24 artigos em revistas médicas indexadas no Pubmed.

Q2- O que o levou a aceitar presidir a Sociedade de Radiologia do Rio de Janeiro? Quais as metas da sua gestão?

Meu primeiro contato com a estrutura de gestão da SRad-RJ foi durante o mandato anterior (2015-2016), quando exercia o cargo de diretor científico. Foi um período muito duro e de difíceis decisões para a Sociedade, em que a combinação de estrutura de custos pesada ao quadro econômico desfavorável tornavam a sustentabilidade um grande desafio. A gestão anterior, personificada no Presidente, Dr. Hilton Koch, teve enorme êxito em buscar apoio junto ao CBR para sanear a situação econômica da Sociedade, de modo que encerramos 2016 sem dívidas, com estrutura de custos muito mais enxuta, e sobretudo com uma grade científica em funcionamento.
Foi-me então ofertada a Presidência da Sociedade pelo Conselho consultivo, e meu aceite foi fruto de senso de dever e otimismo em relação ao projeto em andamento.
Desde então, com o apoio e inestimável ajuda dos demais integrantes desta gestão, temos trabalhado alguns objetivos para este biênio:
       Sistema de gestão de associados (entregue)
       Digitalização dos processos de associação, pagamento de anuidades e inscrição em eventos (entregue)
       Investir na percepção de valor por parte do associado. (entregue)
       Comunicação em mídias sociais e newsletter (entregue)
       Estreitar relacionamento com parceiros comerciais (entregue)
       Viabilizar patrocínio por empresas de outros ramos (entregue)
       Apoiar o CBR2018 no Rio de Janeiro (em outubro)

Alguns resultados já são amplamente visíveis, como o aumento no quadro de associados adimplentes (em torno de 300 este ano), o retorno das empresas parceiras ao patrocínio das atividades da sociedade (sete empresas até o momento), e sobretudo o resultado financeiro fortemente positivo no ano passado, revertendo o ciclo de prejuízo financeiro que se estendia por mais de uma década.

Ainda temos diversos desafios pela frente na SRad-RJ, mas seguramente a próxima gestão encontrará bases sólidas e ampla sustentabilidade na Sociedade para executar seus objetivos.

Q3- Em termos de rastreamento e diagnóstico do câncer de próstata, qual o papel do toque retal, dosagem de PSA e biópsia transretal da próstata?

Estes métodos ainda constituem a rotina e a principal rota diagnóstica no rastreio do câncer de próstata (CaP), segundo a maioria das diretrizes de especialidades urológicas ou oncológicas.
No entanto, tem-se acumulado extensa evidência que demonstra desvantagem destes métodos de rastreio quando não apoiados por métodos de imagem mais avançados, uma vez que aumenta a incidência de superdiagnóstico (diagnóstico de lesões insignificantes, que leva a tratamentos desnecessários e potencialmente danosos) e de falsos negativos (deixar de identificar tumores que merecem tratamento).
Trabalhos recentes de alta qualidade têm demonstrado que a associação da ressonância magnética multiparamétrica da próstata agrega valor significativo a estes demais métodos.

Q4- O que é ressonância magnética multiparamétrica de próstata e, nos dias atuais, qual o papel do método?

Trata-se de um exame que alia informações morfológicas (imagens pesadas em T2) a informações funcionais (difusão, realce dinâmico pelo contraste), para a detecção de CaP clinicamente significativo.
O método tem ganhado ampla aceitação frente a comunidade urológica e oncológica, e a maioria dos serviços radiológicos já tem percebido importante aumento da demanda deste exame ao longo dos últimos anos.
Hoje já sabemos que a RM multiparamétrica é o método diagnóstico não invasivo de maior acurácia para a detecção de CaP significativo, superando até mesmo PSA, toque retal e biópsia sistemática de próstata.
Além disso, o método permite a fusão das imagens de RM com as imagens de ultrassonografia transretal em tempo real, possibilitando a coleta de fragmentos de biópsia direcionados às alterações apontadas na RM, com elevada acurácia e resultados muito superiores às técnicas de biópsia sistemática por sextantes.
Pessoalmente, acreditamos que no futuro próximo, a grande maioria dos pacientes com indicação de biópsia de próstata serão primeiro submetidos a um exame de RM multiparamétrica, e caso haja alteração, serão encaminhados para biópsia por fusão de imagens.

Q5- O que é a classificação PIRADS?

É uma classificação baseada em RM multiparamétrica da próstata que consiste na atribuição de um escore de 1 a 5 às lesões identificadas, de acordo com descritores específicos, validados pela literatura. Quanto maior o escore, maior o risco de a lesão representar CaP significativo. Esta classificação tem auxiliado muito na comunicação e padronização dos resultados dos exames entre diferentes instituições e entre radiologista e médico assistente.

Q6- O que esperar para o futuro? Existem novas tecnologias, protocolos, softwares em testes, com potencial para tornar mais eficiente o diagnóstico do câncer de próstata?

O futuro em qualquer área da radiologia converge para iniciativas baseadas em inteligência artificial, e no contexto da próstata não é diferente. Já existem diversos grupos no mundo trabalhando em algoritmos que possam auxiliar o radiologista na detecção e caracterização de lesões suspeitas, porém ainda em fase rudimentar.

Nosso grupo está envolvido em algumas destas iniciativas, e esperamos poder compartilhar nossos resultados com a comunidade dentro dos próximos anos.

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