A sétima entrevista do projeto é com o Leonardo Kayat, professor adjunto de radiologia da UFF e atual presidente da Sociedade de Radiologia do Rio de Janeiro.
Leonardo é um dos maiores especialistas do país em imagem da próstata, particularmente na abordagem do câncer de próstata por meio de ressonância magnética (RM).
De forma bastante didática, ele nos atualiza em relação ao tema e discute o papel da RM no diagnóstico de uma neoplasia maligna que é a segunda maior causa de óbito no sexo masculino.
Q1- Leonardo, você poderia fazer um breve relato da sua trajetória acadêmica dentro da radiologia?
Leonardo é um dos maiores especialistas do país em imagem da próstata, particularmente na abordagem do câncer de próstata por meio de ressonância magnética (RM).
De forma bastante didática, ele nos atualiza em relação ao tema e discute o papel da RM no diagnóstico de uma neoplasia maligna que é a segunda maior causa de óbito no sexo masculino.
Q1- Leonardo, você poderia fazer um breve relato da sua trajetória acadêmica dentro da radiologia?
Sou formado em Medicina pela nossa
UERJ, na turma graduada em 2004. Fiz residência em Radiologia na Med-Imagem /
Hosp. Beneficência Portuguesa de São Paulo, através do concurso do SUS-SP.
Prossegui no quarto ano na mesma instituição, como Fellow em Medicina Interna,
finalizando em janeiro de 2009.
Retornei então ao RJ, onde passei a
trabalhar na clínica CDPI/DASA desde 2009 até o presente, no setor de RM em
medicina interna.
Iniciei o Mestrado em Radiologia na
UFRJ em 2009, sob orientação do Prof. Emerson Gasparetto, defendendo a
dissertação em 2011, intitulada: “A IMPORTÂNCIA DAS IMAGENS DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
PESADAS EM DIFUSÃO NA CARACTERIZAÇÃO DO GRAU DE AGRESSIVIDADE DO ADENOCARCINOMA
DE PRÓSTATA NA ZONA PERIFÉRICA”. Segui então para o Doutorado na mesma
instituição e com o mesmo orientador, matriculando em 2011 e defendendo a tese
em fevereiro de 2014, sob o título: “AVALIAÇÃO DA PERFORMANCE DOS CRITÉRIOS DE
PI-RADS PARA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA MULTIPARAMÉTRICA DA PRÓSTATA NA DETECÇÃO DE
EXTENSÃO EXTRACAPSULAR DO CÂNCER DE PRÓSTATA”.
Em seguida, fui aprovado em março de
2014 para concurso para professor adjunto do Departamento de Radiologia da
Faculdade de Medicina da UFF, onde atuo em carreira docente até o presente, e
atualmente também exerço a vice-chefia do departamento.
Durante este período de desenvolvimento
acadêmico, tive o privilégio de colaborar com grupos e colegas de excelente
qualidade no Brasil e no mundo, possibilitando a apresentação de mais de 60
trabalhos na RSNA, além da publicação de 24 artigos em revistas médicas
indexadas no Pubmed.
Q2- O que o levou a aceitar presidir a
Sociedade de Radiologia do Rio de Janeiro? Quais as metas da sua gestão?
Meu primeiro contato com a estrutura de
gestão da SRad-RJ foi durante o mandato anterior (2015-2016), quando exercia o
cargo de diretor científico. Foi um período muito duro e de difíceis decisões
para a Sociedade, em que a combinação de estrutura de custos pesada ao quadro
econômico desfavorável tornavam a sustentabilidade um grande desafio. A gestão
anterior, personificada no Presidente, Dr. Hilton Koch, teve enorme êxito em
buscar apoio junto ao CBR para sanear a situação econômica da Sociedade, de
modo que encerramos 2016 sem dívidas, com estrutura de custos muito mais
enxuta, e sobretudo com uma grade científica em funcionamento.
Foi-me então ofertada a Presidência da
Sociedade pelo Conselho consultivo, e meu aceite foi fruto de senso de dever e
otimismo em relação ao projeto em andamento.
Desde então, com o apoio e inestimável
ajuda dos demais integrantes desta gestão, temos trabalhado alguns objetivos
para este biênio:
•
Sistema de gestão de associados
(entregue)
•
Digitalização dos processos de
associação, pagamento de anuidades e inscrição em eventos (entregue)
•
Investir na percepção de valor por
parte do associado. (entregue)
•
Comunicação em mídias sociais e
newsletter (entregue)
•
Estreitar relacionamento com parceiros
comerciais (entregue)
•
Viabilizar patrocínio por empresas de
outros ramos (entregue)
•
Apoiar o CBR2018 no Rio de Janeiro (em outubro)
Alguns resultados já são amplamente
visíveis, como o aumento no quadro de associados adimplentes (em torno de 300
este ano), o retorno das empresas parceiras ao patrocínio das atividades da
sociedade (sete empresas até o momento), e sobretudo o resultado financeiro
fortemente positivo no ano passado, revertendo o ciclo de prejuízo financeiro
que se estendia por mais de uma década.
Ainda temos diversos desafios pela
frente na SRad-RJ, mas seguramente a próxima gestão encontrará bases sólidas e
ampla sustentabilidade na Sociedade para executar seus objetivos.
Q3- Em termos de rastreamento e diagnóstico
do câncer de próstata, qual o papel do toque retal, dosagem de PSA e biópsia
transretal da próstata?
Estes métodos ainda constituem a rotina
e a principal rota diagnóstica no rastreio do câncer de próstata (CaP), segundo
a maioria das diretrizes de especialidades urológicas ou oncológicas.
No entanto, tem-se acumulado extensa
evidência que demonstra desvantagem destes métodos de rastreio quando não
apoiados por métodos de imagem mais avançados, uma vez que aumenta a incidência
de superdiagnóstico (diagnóstico de lesões insignificantes, que leva a
tratamentos desnecessários e potencialmente danosos) e de falsos negativos
(deixar de identificar tumores que merecem tratamento).
Trabalhos recentes de alta qualidade
têm demonstrado que a associação da ressonância magnética multiparamétrica da
próstata agrega valor significativo a estes demais métodos.
Q4- O que é ressonância magnética multiparamétrica
de próstata e, nos dias atuais, qual o papel do método?
Trata-se de um exame que alia
informações morfológicas (imagens pesadas em T2) a informações funcionais
(difusão, realce dinâmico pelo contraste), para a detecção de CaP clinicamente
significativo.
O método tem ganhado ampla aceitação
frente a comunidade urológica e oncológica, e a maioria dos serviços
radiológicos já tem percebido importante aumento da demanda deste exame ao
longo dos últimos anos.
Hoje já sabemos que a RM
multiparamétrica é o método diagnóstico não invasivo de maior acurácia para a
detecção de CaP significativo, superando até mesmo PSA, toque retal e biópsia sistemática
de próstata.
Além disso, o método permite a fusão
das imagens de RM com as imagens de ultrassonografia transretal em tempo real,
possibilitando a coleta de fragmentos de biópsia direcionados às alterações
apontadas na RM, com elevada acurácia e resultados muito superiores às técnicas
de biópsia sistemática por sextantes.
Pessoalmente, acreditamos que no futuro
próximo, a grande maioria dos pacientes com indicação de biópsia de próstata
serão primeiro submetidos a um exame de RM multiparamétrica, e caso haja
alteração, serão encaminhados para biópsia por fusão de imagens.
Q5- O que é a classificação PIRADS?
É uma classificação baseada em RM
multiparamétrica da próstata que consiste na atribuição de um escore de 1 a 5
às lesões identificadas, de acordo com descritores específicos, validados pela
literatura. Quanto maior o escore, maior o risco de a lesão representar CaP
significativo. Esta classificação tem auxiliado muito na comunicação e
padronização dos resultados dos exames entre diferentes instituições e entre
radiologista e médico assistente.
Q6- O que esperar para o futuro?
Existem novas tecnologias, protocolos, softwares em testes, com potencial para
tornar mais eficiente o diagnóstico do câncer de próstata?
O futuro em qualquer área da radiologia
converge para iniciativas baseadas em inteligência artificial, e no contexto da
próstata não é diferente. Já existem diversos grupos no mundo trabalhando em
algoritmos que possam auxiliar o radiologista na detecção e caracterização de
lesões suspeitas, porém ainda em fase rudimentar.
Nosso grupo está envolvido em algumas
destas iniciativas, e esperamos poder compartilhar nossos resultados com a
comunidade dentro dos próximos anos.
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