A sexta entrevista do projeto é com um amigo,
docente de radiologia da UFF e um dos principais radiologistas de tórax do
país. Ele nos conta um pouco sobre sua vida e o trabalho sobre traumas
penetrantes que foi publicado recentemente na revista Radiologia
Brasileira http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-39842017000600372&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
Q1- Alessandro, conte-nos sobre a sua
trajetória dentro da radiologia, as pessoas que o influenciaram e o que mudou
na especialidade da sua época de residente para os dias de hoje?
Minha
trajetória na Radiologia se iniciou no 5º período da Faculdade
quando ingressei no Hospital Universitário Antônio Pedro, onde iniciei meu
contato com as disciplinas clínicas e com a Radiologia, cuja sessão
de tórax, ministrada pelo Professor Edson Marchiori, passei a acompanhar, daí
nasceu o interesse, que durante o período de graduação foi compartilhado com a
Cardiologia, a Pneumologia, a Neurologia e a Anatomia Patológica.
No
período que antecedeu o internato passei a acompanhar as atividades práticas do
Professor José Ricardo Duarte Alves e a frequentar as sessões de Osso do
Professor Alberto Vianna e de Aparelho Digestivo, coordenada pelo Professor
Walter Melo, aumentando o interesse pela especialidade. Pensando assim, fiz o
concurso de monitoria em Radiologia. Na monitoria, era estimulado a fazer
trabalhos científicos com o incentivo dos Professores Edson Marchiori e Maria
Lucia Santos.
No 3º
ano da Residência em 1999 recebi o convite do Dr Ricardo Pinheiro para estágio
em tomografia computadorizada helicoidal e ressonância magnética. Ao final
deste ano iniciei a elaboração da minha dissertação de Mestrado em estudo
conjunto com a Patologia, com o tema “Correlação entre a tomografia
computadorizada de alta resolução e a histopatologia na Sarcoidose”, sob
orientação do Professor Edson Marchiori. Tive ainda a oportunidade quase no
final do 3º ano, de realizar a prova de especialista do Colégio
Brasileiro de Radiologia, tendo sido aprovado.
Por
concurso público trabalhei no Hospital Souza Aguiar, onde cumpri minha meta de
fazer uma espécie de pós-residência em Emergência, notadamente em tomografia
computadorizada helicoidal.
A
carreira acadêmica se tornou um objetivo no início da Faculdade de Medicina, já
nos tempos das monitorias de Fisiologia, Patologia e Radiologia e em 2001
comecei a minha tese de doutorado, com busca prospectiva de casos do tema
“Aspectos tomográficos do trauma de tórax”, sob a orientação dos Professores
Edson Marchiori e Arthur Soares de Souza.
Após
a defesa de minha tese de doutorado, em 2003, recebi o convite do Professor
Alair Sarmet para escrever o capítulo de trauma de tórax, do livro de Aparelho
Respiratório da Sociedade Brasileira de Radiologia e dar aula sobre o tema no
curso Abércio Arantes.
Em
2006 ingressei por concurso no Hospital Federal dos Servidores do Estado onde
trabalhei até o início de 2009, quando fiz concurso para Professor do
Departamento de Radiologia da UFF, onde atuo como docente na
graduação e pós-graduação.
A
grande modificação da Radiologia do meu tempo de graduação para os dias de hoje
é basicamente tecnológica. A Radiologia dispõe atualmente de maquinário bem
mais moderno que no meu período de formação. Na minha época de Residência havia
grande foco na formação em Radiologia Convencional e na Ultrassonografia.
Obviamente esses métodos são fundamentais na prática médica, mas houve necessidade
crescente de maior conhecimento nos campos da Tomografia Computadorizada e na
Ressonância Magnética, conteúdos estes que devem ser passados para as novas
gerações de profissionais. Hoje com a digitalização dos métodos até tirar
dúvidas de casos se tornou bem mais simples: na minha época de formação se
fazia necessário fazer filmes extras dos casos e levar até os colegas.
Atualmente a gama de possibilidades é enorme para esse fim, sendo possível
enviar fotos e vídeos até pelo celular e discutir os casos em tempo real.
Q2- Como surgiu a ideia de fazer um trabalho
sobre trauma penetrante de tórax e de onde se originaram os pacientes da
casuística?
O trabalho sobre trauma penetrante teve origem na casuística
da minha tese de doutorado que versou sobre Aspectos de Imagem do Trauma
Torácico. Fui acrescentando novos casos ao longo dos anos. A motivação para a
publicação foi a inexistência de artigos nacionais sobre aspectos de imagem do
trauma penetrante. Os casos eram oriundos prioritariamente de grandes
emergências públicas do Rio de Janeiro como os Hospitais Souza Aguiar, Alberto
Torres e Pedro II, por exemplo.
Q3- Os tipos ou intensidades de lesões
torácicas mudaram ao longo do tempo em consequência da sofisticação dos
armamentos que foram surgindo?
Sim, sem dúvida. As lesões traumáticas penetrantes decorrem na
atualidade em especial de armas capazes de determinar maior transmissão,
gerando afecções mais graves e extensas. Claro que nas situações críticas, se
as vítimas conseguem chegar aos hospitais, o tratamento cirúrgico é realizado
sem investigação diagnóstica pormenorizada prévia.
Q4- Qual o perfil epidemiológico do paciente
atendido na emergência com lesão por arma de fogo ou arma branca?
São vítimas da violência urbana. Indivíduos do sexo masculino, 82%
dos casos, na faixa etária predominante da 3ª a 5ª décadas.
Q5- Quais as lesões torácicas mais comuns e
que diferenças existem para um paciente que sofre trauma fechado? Exemplo:
acidentes como motos, cada vez mais frequentes.
As lesões mais comuns são as contusões pulmonares, o hemotórax, o
pneumotórax e as lesões mediastinais. O padrão tomográfico das lesões
traumáticas do tórax não difere tanto entre aquelas decorrentes de lesões
fechadas ou abertas. Claro que há alguns pontos peculiares a cada uma: destaco
em especial no trauma penetrante a perspectiva da análise de trajeto dos
projéteis e armas brancas, permitindo delinear lesões de órgãos mediastinais,
notadamente vasculares. Ressalto a necessidade na TC de tórax por trauma
torácico, seja penetrante ou fechado, do uso do meio de contraste venoso, se
possível em fase arterial e venosa, visando diagnóstico mais preciso das lesões
cardiovasculares, o que tem particular importância em face de sua grande
mortalidade. Outro ponto importante a se considerar é que a prevalência de
trauma fechado em unidades hospitalares é superior à do trauma penetrante,
muito em função da grande mortalidade em loco do trauma por projéteis de armas
de fogo de grande energia, situação bastante frequente no nosso meio.
Q6- Fora do Brasil, de acordo com os
trabalhos que você consultou, o perfil epidemiológico dos pacientes e as lesões
encontradas são semelhantes?
As lesões descritas na literatura internacional no trauma
penetrante são semelhantes às do nosso estudo e com perfil epidemiológico
parecido.
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