sábado, 14 de abril de 2018

ENTREVISTA SOBRE TRAUMA PENETRANTE COM O PROFESSOR ALESSANDRO SEVERO



A sexta entrevista do projeto é com um amigo, docente de radiologia da UFF e um dos principais radiologistas de tórax do país. Ele nos conta um pouco sobre sua vida e o trabalho sobre traumas penetrantes que foi publicado recentemente na revista Radiologia Brasileira http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-39842017000600372&lng=en&nrm=iso&tlng=pt

Q1- Alessandro, conte-nos sobre a sua trajetória dentro da radiologia, as pessoas que o influenciaram e o que mudou na especialidade da sua época de residente para os dias de hoje?

Minha trajetória na Radiologia se iniciou  no 5º período da Faculdade quando ingressei no Hospital Universitário Antônio Pedro, onde iniciei meu contato com as disciplinas clínicas e com a  Radiologia, cuja sessão de tórax, ministrada pelo Professor Edson Marchiori, passei a acompanhar, daí nasceu o interesse, que durante o período de graduação foi compartilhado com a Cardiologia, a Pneumologia, a Neurologia e a Anatomia Patológica. 
No período que antecedeu o internato passei a acompanhar as atividades práticas do Professor José Ricardo Duarte Alves e a frequentar as sessões de Osso do Professor Alberto Vianna e de Aparelho Digestivo, coordenada pelo Professor Walter Melo, aumentando o interesse pela especialidade. Pensando assim, fiz o concurso de monitoria em Radiologia. Na monitoria, era estimulado a fazer trabalhos científicos com o incentivo dos Professores Edson Marchiori e Maria Lucia Santos.
No 3º ano da Residência em 1999 recebi o convite do Dr Ricardo Pinheiro para estágio em tomografia computadorizada helicoidal e ressonância magnética. Ao final deste ano iniciei a elaboração da minha dissertação de Mestrado em estudo conjunto com a Patologia, com o tema “Correlação entre a tomografia computadorizada de alta resolução e a histopatologia na Sarcoidose”, sob orientação do Professor Edson Marchiori. Tive ainda a oportunidade quase no final do 3º ano,  de realizar a prova de especialista do Colégio Brasileiro de Radiologia, tendo sido aprovado.      
Por concurso público trabalhei no Hospital Souza Aguiar, onde cumpri minha meta de fazer uma espécie de pós-residência em Emergência, notadamente em tomografia computadorizada helicoidal. 
 A carreira acadêmica se tornou um objetivo no início da Faculdade de Medicina, já nos tempos das monitorias de Fisiologia, Patologia e Radiologia e em 2001 comecei a minha tese de doutorado, com busca prospectiva de casos do tema “Aspectos tomográficos do trauma de tórax”, sob a orientação dos Professores Edson Marchiori e Arthur Soares de Souza.
 Após a defesa de minha tese de doutorado, em 2003, recebi o convite do Professor Alair Sarmet para escrever o capítulo de trauma de tórax, do livro de Aparelho Respiratório da Sociedade Brasileira de Radiologia e dar aula sobre o tema no curso Abércio Arantes.

Em 2006 ingressei por concurso no Hospital Federal dos Servidores do Estado onde trabalhei até o início de 2009, quando fiz concurso para Professor do Departamento de Radiologia da UFF,  onde atuo como docente na graduação e pós-graduação. 
 A grande modificação da Radiologia do meu tempo de graduação para os dias de hoje é basicamente tecnológica. A Radiologia dispõe atualmente de maquinário bem mais moderno que no meu período de formação. Na minha época de Residência havia grande foco na formação em Radiologia Convencional e na Ultrassonografia. Obviamente esses métodos são fundamentais na prática médica, mas houve necessidade crescente de maior conhecimento nos campos da Tomografia Computadorizada e na Ressonância Magnética, conteúdos estes que devem ser passados para as novas gerações de profissionais. Hoje com a digitalização dos métodos até tirar dúvidas de casos se tornou bem mais simples: na minha época de formação se fazia necessário fazer filmes extras dos casos e levar até os colegas. Atualmente a gama de possibilidades é enorme para esse fim, sendo possível enviar fotos e vídeos até pelo celular e discutir os casos em tempo real.    
             

Q2- Como surgiu a ideia de fazer um trabalho sobre trauma penetrante de tórax e de onde se originaram os pacientes da casuística?

O trabalho sobre trauma penetrante teve origem na casuística da minha tese de doutorado que versou sobre Aspectos de Imagem do Trauma Torácico. Fui acrescentando novos casos ao longo dos anos. A motivação para a publicação foi a inexistência de artigos nacionais sobre aspectos de imagem do trauma penetrante. Os casos eram oriundos prioritariamente de grandes emergências públicas do Rio de Janeiro como os Hospitais Souza Aguiar, Alberto Torres e Pedro II,  por exemplo.

Q3- Os tipos ou intensidades de lesões torácicas mudaram ao longo do tempo em consequência da sofisticação dos armamentos que foram surgindo?

Sim, sem dúvida. As lesões traumáticas penetrantes decorrem na atualidade em especial de armas capazes de determinar maior transmissão, gerando afecções mais graves e extensas. Claro que nas situações críticas, se as vítimas conseguem chegar aos hospitais, o tratamento cirúrgico é realizado sem investigação diagnóstica pormenorizada prévia.


Q4- Qual o perfil epidemiológico do paciente atendido na emergência com lesão por arma de fogo ou arma branca?

São vítimas da violência urbana. Indivíduos do sexo masculino, 82% dos casos, na faixa etária predominante da 3ª a 5ª décadas.


Q5- Quais as lesões torácicas mais comuns e que diferenças existem para um paciente que sofre trauma fechado? Exemplo: acidentes como motos, cada vez mais frequentes.

As lesões mais comuns são as contusões pulmonares, o hemotórax, o pneumotórax e as lesões mediastinais. O padrão tomográfico das lesões traumáticas do tórax não difere tanto entre aquelas decorrentes de lesões fechadas ou abertas. Claro que há alguns pontos peculiares a cada uma: destaco em especial no trauma penetrante a perspectiva da análise de trajeto dos projéteis e armas brancas, permitindo delinear lesões de órgãos mediastinais, notadamente vasculares. Ressalto a necessidade na TC de tórax por trauma torácico, seja penetrante ou fechado, do uso do meio de contraste venoso, se possível em fase arterial e venosa, visando diagnóstico mais preciso das lesões cardiovasculares, o que tem particular importância em face de sua grande mortalidade. Outro ponto importante a se considerar é que a prevalência de trauma fechado em unidades hospitalares é superior à do trauma penetrante, muito em função da grande mortalidade em loco do trauma por projéteis de armas de fogo de grande energia, situação bastante frequente no nosso meio.


Q6- Fora do Brasil, de acordo com os trabalhos que você consultou, o perfil epidemiológico dos pacientes e as lesões encontradas são semelhantes?

As lesões descritas na literatura internacional no trauma penetrante são semelhantes às do nosso estudo e com perfil epidemiológico parecido.



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