sábado, 18 de junho de 2016

CARCINOMA DE PÂNCREAS

Câncer de Pâncreas

1- Anatomia do Pâncreas
O pâncreas é uma glândula mista  situada  profundamente na cavidade abdominal (retroperitônio), ou seja, está posterior ao estômago e à bolsa omental,  condição que em situações normais não o torna palpável. O pâncreas divide-se em três partes: cauda, corpo e cabeça. A cabeça do pâncreas está alojada na curvatura do duodeno tendo uma importante relação com este órgão, além disso contém o ducto pancreático que conecta o pâncreas ao ducto colédoco ( ducto biliar comum).
 Os cânceres que começam na cabeça do pâncreas podem comprimir o ducto biliar, na parte proximal, levando à icterícia; pode haver também a compressão do duodeno dificultando a passagem do bolo alimentar.


2- Câncer de Pâncreas
Este é um câncer  que se desenvolve , na grande maioria dos pacientes, sem apresentar sintomas clínicos prévios e a doença só se torna aparente após o tumor invadir tecidos circundantes ou produzir metástases para órgãos distantes, apresentando um mau prognóstico. A maioria das pessoas que se apresenta com sintomas atribuíveis ao câncer de pâncreas foi submetida à tomografias abdominais por outras razões; foi observado que existem alterações sutis pelo câncer de pâncreas, um ano antes do desenvolvimento dos sintomas, insuficientes para sugerir um protocolo de rastreamento precoce desta neoplasia.

2.1- Causas
O câncer de pâncreas é raro antes dos 30 e mais frequente após os 60 anos. É de difícil diagnóstico e representa a quinta causa de mortalidade por malignidade no ocidente.  Fatores que predispõem a esta neoplasia são: predisposição genética, tabagismo, alcoolismo crônico, pancreatite aguda,  diabetes mellitus tipo 2 ( adquirida )  e obesidade.

2.2- Fiopatologia
Como o pâncreas possui células com atividades exócrinas e endócrinas é  muito importante distinguir entre as neoplasias  desses dois tipos celulares. Cada uma apresenta diferentes causas, sinais,  sintomas e prognóstico.
2.2.1- Câncer  pancreático  exócrino: é o tipo mais comum de câncer de pâncreas
2.2.1.1- adenocarcinomas pancreáticos:  representam 95% das neoplasias pancreáticas. Em geral se originam dos ductos pancreáticos, ou  são formados a partir de células produtoras de enzimas pancreáticas ( carcinomas acinares )
2.2.1.2- tipos menos comuns de câncer exócrino:  carcinoma de células escamosas , células em anel de sinete, carcinomas indiferenciados e de células gigantes .
2.2.1.3- Carcinoma da papila de Vater: Este câncer tem origem na ampola de Vater ( ampola hepatopancreática), onde o ducto biliar comum e o ducto pancreático convergem em direção ao duodeno.
Essas neoplasias muitas vezes bloqueiam  o ducto biliar provocando o acúmulo de bile , desse modo o paciente passa a apresentar  sinais de icterícia:  pele e olhos adquirem  cor amarelada. Por essa razão clínica, os tipos exócrinos podem ser detectados mais cedo que os tipos endócrinos.
2.2.2- Neoplasia pancreática endócrina: também chamados de tumores neuroendócrinos do pâncreas, costumam ser mais raros, podendo  ser benignos ou malignos, sendo muitas vezes difícil a distinção.
2.2.2.1- tumores neuroendócrinos funcionais  do pâncreas: nesses tumores as células tumorais produzem hormônios que ao caírem na corrente sanguínea produzem os sintomas. Os mais comuns são do tipo insulinoma e gastrinoma.
2.2.2.2- Tumores neuroendócrinos não funcionais: não produzem hormônios suficientes para atingirem a corrente sanguínea e provocar sintomas, por isso podem aumentar muito de tamanho antes que sejam identificados.
2.2.2.3- Tumores carcinoides: estes tumores são mais comuns em outras partes do sistema digestivo, mas raramente podem se iniciar no pâncreas. Muitas vezes, estes tumores produzem serotonina (também chamado 5-HT) ou precursor, 5-HTP.
Os tumores neuroendócrinos do pâncreas apresentam melhor prognóstico do que os tumores  pancreáticos exócrinos.

2.3- Apresentação Clínica
Os locais de invasão mais comuns do câncer de pâncreas são duodeno, veia porta e vasos mesentéricos superiores, podendo atingir também nervos periféricos, baço, adrenais, coluna vertebral, cólon transverso e estômago. Linfonodos peripancreáticos regionais são frequentes focos de metástases
As principais manifestações clínicas  observadas incluem dor abdominal , icterícia obstrutiva, e perda de peso. A perda de peso pode surgir por anorexia, má digestão decorrente da obstrução dos ductos pancreáticos e biliares impedindo a atuação de enzimas pancreáticas e da bile, e caquexia. Ocasionalmente, a obstrução do pâncreas  pode resultar em ataques de pancreatite por acúmulo enzimático. A trombose venosa profunda e superficial não é incomum e pode ser um sinal de apresentação de doença maligna. A obstrução gástrica com náuseas e vômitos, às vezes acontece quando  a doença encontra-se em estágio  avançado.
Na lesão da cabeça do pâncreas é muito comum  ocorrer a esteatorreia ( fezes com presença de gorduras) e icterícia devido à obstrução biliar, pode ocorrer também  a compressão do duodeno dificultando a passagem do bolo alimentar e por consequência , o processo digestivo; nesses casos há indicação de colocação de próteses biliares e duodenais para melhorar os sintomas e a sobrevida do paciente. O Sinal de Curvoisier-Terrier  à palpação ( vesícula biliar distendida ) também está presente.

2.4- Exames
2.4.1- laboratoriais:  podem demonstrar valores aumentados de bilirrubina sérica e de atividade da fosfatase alcalina.
2.4.2- Imagem: a Tomografia Computadorizada Trifásica é o melhor  exame para  diagnóstico inicial de câncer pancreático, permitindo a visualização da lesão e delimitação do avanço da doença (local e metástases). A TC fornece cerca de 80% de precisão na predição de ressecabilidade* .A ressonância magnética pode ser utilizado para o estadiamento em pacientes que não toleram contraste intravenoso para TC.
O foco dos esforços de triagem até agora tem sido para detectar lesões pré-invasivas , ao invés de câncer pancreático precoce , uma vez que a ressecção de lesões pré-invasivas podem impedir o desenvolvimento de um câncer pancreático invasivo.
O estadiamento clínico classifica os pacientes em ressecável, localmente avançado, e doença metastática.
*tumor que pode ser removido cirurgicamente.

3- Referências
-  Vincent A, Herman J, Schulick R, Hruban RH, Goggins M. Pancreatic cancer. Lancet (London, England). 2011 Aug 13; 378(9791). Disponível: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3062508/
- AmericanCancer Society.Last Medical Review: 3/14/2016. Disponivel:http://www.cancer.org/acs/groups/cid/documents/webcontent/002318-pdf.pdf
- Silva CSHA, Lucas SFLM, Nakatsu E, Moricz M, Silva RA, Pacheco Jr. AM, De Campos T. Adenocarcinoma de pâncreas em paciente jovem: relato de caso. Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São Paulo. 2011; 56(1): 36-9. Disponivel: http://www.fcmsantacasasp.edu.br/images/Arquivos_medicos/2011/56_1/08_rc06.pdf


Texto elaborado pela aluna de graduação da UERJ, Samilly Quirino





TC de abdome: artefatos cirúrgicos por próteses duodenal e biliar devido à obstrução por uma neoplasia de cabeça de pâncreas. Há dilatação do dueto de Wirsung por atrofia do corpo e cauda, fenômeno comum nos carcinomas de cabeça




TC de abdome: massa na cabeça do pâncreas, com grande área de necrose



TC de abdome: reconstrução coronal









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