Câncer de Pâncreas
1- Anatomia do Pâncreas
O pâncreas é uma glândula mista situada
profundamente na cavidade abdominal (retroperitônio), ou seja, está
posterior ao estômago e à bolsa omental,
condição que em situações normais não o torna palpável. O pâncreas
divide-se em três partes: cauda, corpo e cabeça. A cabeça do pâncreas está
alojada na curvatura do duodeno tendo uma importante relação com este órgão, além
disso contém o ducto pancreático que conecta o pâncreas ao ducto colédoco (
ducto biliar comum).
Os cânceres que
começam na cabeça do pâncreas podem comprimir o ducto biliar, na parte
proximal, levando à icterícia; pode haver também a compressão do duodeno
dificultando a passagem do bolo alimentar.
2- Câncer de Pâncreas
Este é um câncer que se
desenvolve , na grande maioria dos pacientes, sem apresentar sintomas clínicos
prévios e a doença só se torna aparente após o tumor invadir tecidos
circundantes ou produzir metástases para órgãos distantes, apresentando um mau
prognóstico. A maioria das pessoas que se apresenta com sintomas atribuíveis ao
câncer de pâncreas foi submetida à tomografias abdominais por outras razões; foi
observado que existem alterações sutis pelo câncer de pâncreas, um ano antes do
desenvolvimento dos sintomas, insuficientes para sugerir um protocolo de rastreamento
precoce desta neoplasia.
2.1- Causas
O câncer de pâncreas é raro antes dos 30 e mais frequente
após os 60 anos. É de difícil diagnóstico e representa a quinta causa de
mortalidade por malignidade no ocidente.
Fatores que predispõem a esta neoplasia são: predisposição genética, tabagismo,
alcoolismo crônico, pancreatite aguda,
diabetes mellitus tipo 2 ( adquirida )
e obesidade.
2.2- Fiopatologia
Como o pâncreas possui células com atividades exócrinas e
endócrinas é muito importante distinguir
entre as neoplasias desses dois tipos
celulares. Cada uma apresenta diferentes causas, sinais, sintomas e prognóstico.
2.2.1- Câncer pancreático
exócrino: é o
tipo mais comum de câncer de pâncreas
2.2.1.1- adenocarcinomas
pancreáticos: representam 95% das neoplasias pancreáticas.
Em geral se originam dos ductos pancreáticos, ou são formados a partir de células produtoras
de enzimas pancreáticas ( carcinomas acinares )
2.2.1.2- tipos menos
comuns de câncer exócrino: carcinoma de células escamosas ,
células em anel de sinete, carcinomas indiferenciados e de células gigantes .
2.2.1.3- Carcinoma da
papila de Vater:
Este câncer tem origem na ampola de Vater ( ampola hepatopancreática), onde o
ducto biliar comum e o ducto pancreático convergem em direção ao duodeno.
Essas neoplasias muitas vezes bloqueiam o ducto biliar provocando o acúmulo de bile ,
desse modo o paciente passa a apresentar
sinais de icterícia: pele e olhos
adquirem cor amarelada. Por essa razão clínica,
os tipos exócrinos podem ser detectados mais cedo que os tipos endócrinos.
2.2.2- Neoplasia
pancreática endócrina: também chamados de tumores neuroendócrinos do pâncreas, costumam ser mais
raros, podendo ser benignos ou malignos,
sendo muitas vezes difícil a distinção.
2.2.2.1- tumores
neuroendócrinos funcionais do pâncreas: nesses tumores as células tumorais
produzem hormônios que ao caírem na corrente sanguínea produzem os sintomas. Os
mais comuns são do tipo insulinoma e gastrinoma.
2.2.2.2- Tumores
neuroendócrinos não funcionais: não produzem hormônios suficientes para atingirem a
corrente sanguínea e provocar sintomas, por isso podem aumentar muito de
tamanho antes que sejam identificados.
2.2.2.3- Tumores
carcinoides: estes
tumores são mais comuns em outras partes do sistema digestivo, mas raramente
podem se iniciar no pâncreas. Muitas vezes, estes tumores produzem serotonina
(também chamado 5-HT) ou precursor, 5-HTP.
Os tumores neuroendócrinos do pâncreas apresentam melhor
prognóstico do que os tumores
pancreáticos exócrinos.
2.3- Apresentação
Clínica
Os locais de invasão mais comuns do câncer de pâncreas são
duodeno, veia porta e vasos mesentéricos superiores, podendo atingir também
nervos periféricos, baço, adrenais, coluna vertebral, cólon transverso e
estômago. Linfonodos peripancreáticos regionais são frequentes focos de
metástases
As principais manifestações clínicas observadas incluem dor abdominal , icterícia
obstrutiva, e perda de peso. A perda de peso pode surgir por anorexia, má
digestão decorrente da obstrução dos ductos pancreáticos e biliares impedindo a
atuação de enzimas pancreáticas e da bile, e caquexia. Ocasionalmente, a obstrução
do pâncreas pode resultar em ataques de
pancreatite por acúmulo enzimático. A trombose venosa profunda e superficial
não é incomum e pode ser um sinal de apresentação de doença maligna. A
obstrução gástrica com náuseas e vômitos, às vezes acontece quando a doença encontra-se em estágio avançado.
Na lesão da cabeça do pâncreas é muito comum ocorrer a esteatorreia ( fezes com presença
de gorduras) e icterícia devido à obstrução biliar, pode ocorrer também a compressão do duodeno dificultando a
passagem do bolo alimentar e por consequência , o processo digestivo; nesses
casos há indicação de colocação de próteses biliares e duodenais para
melhorar os sintomas e a sobrevida do paciente. O Sinal de Curvoisier-Terrier à palpação ( vesícula biliar distendida )
também está presente.
2.4- Exames
2.4.1- laboratoriais: podem demonstrar valores aumentados de bilirrubina
sérica e de atividade da fosfatase alcalina.
2.4.2- Imagem: a Tomografia Computadorizada Trifásica é o
melhor exame para diagnóstico inicial de câncer pancreático,
permitindo a visualização da lesão e delimitação do avanço da doença (local e
metástases). A TC fornece cerca de 80% de precisão na predição de
ressecabilidade* .A ressonância
magnética pode ser utilizado para o estadiamento em pacientes que não toleram
contraste intravenoso para TC.
O foco dos esforços de triagem até agora tem sido para
detectar lesões pré-invasivas , ao invés de câncer pancreático precoce , uma
vez que a ressecção de lesões pré-invasivas podem impedir o desenvolvimento de
um câncer pancreático invasivo.
O estadiamento clínico classifica os pacientes em ressecável,
localmente avançado, e doença metastática.
*tumor que pode ser removido
cirurgicamente.
3- Referências
- Vincent A,
Herman J, Schulick R, Hruban RH, Goggins M. Pancreatic cancer. Lancet (London,
England). 2011 Aug 13; 378(9791). Disponível: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3062508/
- AmericanCancer
Society.Last Medical Review: 3/14/2016. Disponivel:http://www.cancer.org/acs/groups/cid/documents/webcontent/002318-pdf.pdf
- Silva
CSHA, Lucas SFLM, Nakatsu E, Moricz M, Silva RA, Pacheco Jr. AM, De Campos T.
Adenocarcinoma de pâncreas em paciente jovem: relato de caso. Arq Med Hosp Fac
Cienc Med Santa Casa São Paulo. 2011; 56(1): 36-9. Disponivel: http://www.fcmsantacasasp.edu.br/images/Arquivos_medicos/2011/56_1/08_rc06.pdf
Texto
elaborado pela aluna de graduação da UERJ, Samilly Quirino
TC de abdome: artefatos cirúrgicos por próteses duodenal e biliar devido à obstrução por uma neoplasia de cabeça de pâncreas. Há dilatação do dueto de Wirsung por atrofia do corpo e cauda, fenômeno comum nos carcinomas de cabeça
TC de abdome: massa na cabeça do pâncreas, com grande área de necrose
TC de abdome: reconstrução coronal
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