Infarto omental
1)Introdução:
O diagnóstico sindrômico de abdome agudo inflamatório localizado na
fossa ilíaca direita abrange como principais diagnósticos diferenciais: apendicite,
diverticulite e colecistite agudas, ileíte terminal, apendagite e infarto segmentar
do omento.
A torção omental com infarto é urgência abdominal rara que acomete
pacientes de meia-idade, com predomínio do sexo masculino (3:2). Mais comumente
ocorre sem causa evidente (infarto segmentar idiopático ou primário), não
havendo ponto de fixação demonstrável. Fatores considerados predisponentes para
este tipo de torção incluem a obesidade e a presença de omento redundante e
exageradamente móvel. A maior parte dos infartos acomete a porção direita do
omento, provavelmente devido às maiores dimensões, peso e mobilidade deste
segmento. Nos casos de torções ditas secundárias, cirurgias prévias recentes
(mais frequente dentre as secundárias), tumores, aderências e hérnias
encarceradas são comumente implicados.
Em pacientes pediátricos a obesidade tem sido ressaltada como
importante fator predisponente. Estudos comparativos entre crianças do sexo
masculino e feminino com índices de massa corpórea semelhantes têm mostrado
maior incidência de torção em meninos, o que parece ser explicado pela maior
tendência destes em apresentar acúmulo central de gordura (distribuição
fisiológica dependente do sexo), com omentos mais espessos e pesados.
2) Etiologia e patogênese:
A etiologia e patogênese são incertas. Um omento redundante ou
anomalias vasculares têm sido postuladas como possíveis causas que fazem com
que o omento se torne suscetível à torção e infarte. Outra hipótese indica que
a origem desta desordem é uma congestão vascular associada com o aumento da
pressão intra-abdominal ou alimentos abundantes.
3) Sinais e sintomas:
Clinicamente apresenta-se com dor abdominal persistente localizada
no hemiabdome direito, febre baixa e ausência de sintomas gastrointestinais. Os
exames laboratoriais normalmente não apresentam alterações. Pode simular uma
apendicite aguda e deve ser considerado diagnóstico diferencial de abdome
agudo.
4) Diagnóstico:
As modalidades de diagnóstico por imagem, seja a ultrassonografia
(US) ou a tomografia computadorizada (TC), podem com muita propriedade avaliar
as afecções que acometem a fossa ilíaca direita, principalmente quando se trata
de processos inflamatórios. Nos casos de infarto de omento, estes métodos irão
mostrar a densificação de planos gordurosos com formação de massa, sem sinais
de acometimento dos órgãos desta região.
O achado ultrassonográfico característico é de massa
hiperecogênica ovóide localizada no quadrante inferior direito, com um apêndice
de características normais. Sua limitação é a de ser operador dependente. A TC é
indicada se os sintomas persistirem ou se o achado na US for negativo ou
equívoco. A TC demonstra uma massa gordurosa heterogênea triangular ou oval
localizada entre a parede abdominal anterior e o cólon transverso ou ascendente.
A massa consiste de necrose gordurosa, hemorragia e infiltração
inflamatória. Recentemente, foi sugerido que a presença de estruturas lineares
serpiginosas associadas a massa gordurosa representam vasos omentais torcidos
sobre si próprios, o que corrobora o diagnóstico de infarto omental. Nos casos
em que estejam presentes, processos concomitantes ou mesmo desencadeantes
(torção secundária) podem ser demonstrados.
O diagnóstico de infarto omental é feito, muita das vezes, durante
o ato cirúrgico, pois a expressão clínica dos processos inflamatórios da fossa
ilíaca direita tem como primeira hipótese a apendicite aguda, sendo frequentemente
indicada cirurgia sem a realização de exames complementares.
Texto da aluna de graduação em medicina Natalia Mourão Rufino.
Setas apontam imagem em halo na projeção do omento maior que corresponder ao infarto deste tecido
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